Anão vestido de palhaço mata oito

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Fábio Ochôa

Por trás do nome chamativo existiu uma já lendária comunidade do extinto Orkut. Ela compilava manchetes esdrúxulas como “diminuto coelho ajuda 31 a fugirem da prisão” ou “americano açoita namorada com um atum”. Em seu ápice chegou a ter centenas de milhares de inscritos e gerou até livro.

Ou seja, digam o que quiserem do pobre anão, mas jamais neguem que ele era um case de sucesso.

E em um mundo onde a segunda moeda mais valiosa é a atenção, um anão vestido de palhaço matando oito sempre larga na frente. Pois bem, se atenção é a segunda moeda mais preciosa, a primeira vem vinculada a ela: tempo. Ou seja, por quanto tempo se é capaz de prender a atenção do público. É justamente nessa equação onde estão focados os esforços — e o sucesso avassalador — de plataformas como Facebook e Netflix.

Eles sabem: atenção é tempo dedicado. E tempo dedicado, é dinheiro potencial.

Como nosso anão com problemas graves de controle de raiva já provou, uma abertura dramática e inesperada captura a atenção. Reagimos à surpresa. Sempre. Mas para que o público permaneça, bem, é aí que a coisa complica. Temos que oferecer algo vital em troca. Em um mundo abarrotado de estímulos, atenção e permanência nunca é de graça. Apenas para ilustrar: você consegue listar quantas marcas você vê ao longo de um dia inteiro?

Eu contei.

442.

O próprio número me surpreendeu. Isso compreendendo marcas que vi no trajeto até o trabalho, nos anúncios de internet, e até mesmo na TV de fundo do restaurante onde almoço. Hoje em dia tudo grita. E no meio dessa balbúrdia por atenção tudo acaba virando apenas um ruído branco. Uma irrelevante sinfonia de loucos. Dessas 442 quantas eu me lembro? Ou mais, quantas eu sequer reparei? Apenas uma.

Não por acaso.

Não bastasse o diferencial da comunicação, a mensagem por trás é plena de humor e humanidade. Apesar de ser um anúncio no fim das contas, não parece alguém querendo me vender alguma coisa. E por isso, de

Quatrocentos

E quarenta

E duas

Marcas.

Essa permaneceu na minha cabeça.

Segundo o Statistic Brain Research Institute a média de atenção dedicada para cada marca é de aproximadamente oito segundos. Nosso cérebro é programado para filtrar, afinal, com essa sobrecarga de estímulos é impossível absorver tudo. O que fica, inevitavelmente é muito pouco. É um dos maiores combates da TV atual, por exemplo, que tem a dura missão de reinventar os blocos comerciais em um mundo como esse onde ninguém mais consegue se concentrar por 15 minutos em uma sucessão de anúncios de família feliz passando margarina no pão, uma imagem que nosso cérebro já viu e processou milhões de vezes até chegar à irrelevância.

Você precisa oferecer uma experiência maior que isso. Algo que faça sentido.

Uma das chaves para chegar a essa tal experiência é exercer a autocrítica através de três perguntas bastante básicas:

– O que eu tenho a oferecer para qualquer um?

– Em um mundo onde todos gritam de megafone que são o melhor, o mais econômico, bonito, charmoso, cheiroso e supimpa o que posso dizer que seja diferente disso? O que pode realmente capturar a atenção do público sem trair o que estou oferecendo?

– A mais difícil e enganadora: eu realmente ofereço o que eu acho que ofereço?

Uma quarta pergunta, de brinde:

– O que eu ofereço vale a pena quando comparado com o que os outros oferecer? Por que?

Surpreendentemente poucos sabem as respostas exatas para estas perguntas simples. O canto de sereia da autoilusão sempre é sedutor. Ao contrário de antigamente, melhor do que falar para o maior número de pessoas é falar para o mais fiel. E para fidelizar precisamos entender o nosso funcionamento e o do público, entender o que queremos, nós e eles. Entender o que nos torna humanos. Surpreender. Prometer. Cumprir. E acrescentar algo a mais para não se perder na multidão.

Afinal, são tempos tão estranhos que até um anão vestido de palhaço atinge a fama matando oito.

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